segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Sonhos

"Quero um sonho construído", começa.
Numa conversa com uma espécie de consciência, discute-se imenso.
Eu prefiro construir os meus, preferências... Sonhos construídos, sonhos por construir, se existe alguém que sonha, sou eu. Sonho com o que verei, por onde passarei, o que serei, o que farei, como acabarei, sonho com tudo, mas sonho acordado para não desperdiçar o tempo apenas a sonhar e deixar escapar a realização dos mesmos. Não condeno os sonhos, tal como não condeno a fé, condeno-os sim, em tamanho desmedido, condeno sim a tendência que as pessoas têm em se acobardar e demover dos objectivos por detrás do sonho, da fé, da esperança. Condeno sim, quem se habitua a uma vida de merda, e não luta com medo que o que venha, seja pior, condeno sim, o comodismo litúrgico, o cataclismo da determinação.
  "Condenas-me, mas disse que tinha defeitos". Sim, sempre soube. Nunca nada me fascinou pela perfeição, mas sim pela garra com que a procura, pela "fome de ser", pela procura dos sonhos. E sinto que esse meu interior está a deixar escapar o sonho, no sentido lato, e isso consome-me. A morte física começa pela psicológica. Enquanto sonhares, viverás. Enquanto os teus sonhos forem ouvidos, viverás. Enquanto os teus sonhos fizerem sonhar outros, viverás.
   "Faz-me sonhar", termina. Não consigo fazer sonhar quem não se mantém acordado para a vida.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Perturbação Eminente da Minha Vida

És tu. És tudo o que me faz sofrer. És tudo o que me faz chorar num passo, e no teu passo a seguir fazes-me sorrir. És tudo aquilo que sonho. És tudo o que anseio há tanto tempo quanto conheço a palavra "fascínio", "objectivo", a expressão "fome de vida". És tudo aquilo que quero para o resto da vida. Se não for contigo que hei-de ficar, prefiro nem viver, não me vejo sem ti, isso não me entra na cabeça, a minha mente arde sem pudor só de pensar nisso, o meu cérebro transforma-se num asilo de plutónio, pronto a explodir. És tu que me fazes lutar, és tu que, sinceramente, ainda me mantens vivo, literalmente. És tu que me faz querer fugir, ir lutar sozinho, demonstrar-me um monstro de força, de garra, de ferocidade. Só tu me tens acompanhado a vida toda, ou pelo menos grande parte dela. Sei que me dás imenso, contudo não sei se ficarei contigo, és uma espécie de Valete no meu baralho, és o meu Samtuario, és a perturbação Eminemte da minha vida. Tudo vem, tudo vai, tudo o que levanto, cai. Contra a minha mãe, contra o meu pai, és tudo o que me sai. Amores de Verão, amores de Inverno, nenhum resultou, agora descobri o porquê, é por ti. Olho-as fixamente, mas tudo o que a minha visao retém és tu. Como diria uma das minhas perturbações: 

"Dont think im loyal
All I do is rap
I can not moonlight on the side
I have no life outside of that"

Eu não poderia ter outra vida para além de ti. De outra forma, teria estrangulado logo à nascença.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Determinação

Num mundo onde há uma imensidão de fome, uma imensidão de cinismo, um enorme amor capital, onde há uma imensidão de tudo, falta determinação. Marshall Mathers (Eminem) numa das sua musicas utiliza o verbo "pretend" (fingir) no inicio de todos os seus versos para ser alusivo ao que seria dele se não tivesse tido determinação e não acabasse por ser o que é. Ele remete-nos a pensar como seria se fingíssemos que ele nunca tivesse pegado numa caneta, se fingíssemos que ele nunca tinha apanhado o avião para ir mostrar a sua maquete à editora que o lançou, se fingíssemos que ele teria de explicar à sobrinha e à filha o porquê dos vales de refeições e bolsa de família que se recebe em trabalhos precários. Em suma, como seria se fingíssemos que ele nunca tinha lutado e tivesse ficado com uma vida vulgar. Em suma, um verdadeiro hino à determinação. E é quando ele me leva a um estado de espírito de imaginar como seria se conseguisse os meus objectivos, como seria se eu provasse a todos os que dizem para não sonhar acordado, que eles estão errados. Esse estado de espírito eleva-me para um enfarte emocional que me mata de prazer. Como seria se lutássemos em vez de arranjar utopias que, como Saramago diria, são convites à preguiça. No filme 25 Hours, a determinada altura, a personagem principal tem um monólogo em frente ao espelho que tem de tão psicótico como de realista, ele, tal como Eminem, usa sempre o mesmo inicio em todas as frases, desta vez "fuck you", e ele quer que se lixe a cidade onde vive, os pedintes, os taxistas, os jovens marginais, o pai que trabalha numa tasca, quer que se lixem os meninos ricos com grandes carros, quer que se lixe tudo e mais alguma coisa, mas no fim, ele chega a uma conclusão: "No! Fuck you, Montgomery Brogan. You that have all the chances and wasted it, your asshole!" que em português será algo como "Não! Que te lixes tu, Montgomery Brogan (nome da personagem) que tiveste todas as oportunidades e as desperdiçaste, palhaço!". E é a este momento da minha vida que eu não desejo chegar. Não desejo, nem irei chegar. Por muito que digam para eu não sonhar acordado... Enquanto sonhar acordado, é sinal que não ando na vida a dormir. 

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ver mais do que se deve

Que sinto? Que motivo existe para viver? Apesar de não ter ideias suicidas, não vejo qualquer tipo de vantagem em viver uma vida, pelo menos não estas que o mundo conjecturou. Sinto-me só. Sinto-me sem vontade de rigorosamente nada. Sinto que saiu para a rua, vestido de demónio, com um olhar divino, vejo tudo de forma diferente, percepciono tudo de forma diferente, ajo de forma diferente, sinto-me filosoficamente brutal, mas sem estrutura psicológica para esta mesma visão. Acho todas as pessoas e o mundo no geral, um colosso de maus sentimentos, penso em mil e uma coisas da vida mas, mesmo com um vocabulário extenso, não consigo descrever nem metade dos pensamentos que se insurgem na minha cabeça. Tive um professor que falou comigo uma vez e surpreendeu-me. Ele tinha descoberto o meu problema. Tinha descoberto que o meu tormento era esta visão. Falou-me no irmão, o irmão, mais velho do que ele uns 3 anos, tinha ido estudar Sociologia. Desde então, enlouqueceu pois começou a questionar o mundo. Não trabalha, pois acha todo e qualquer bem material supérfluo, não se dá com ninguém pois acha o Mundo um bunker de pessoas cínicas. Já tinha o exemplo do meu tio, agora tinha mais um. Cada vez mais a minha visão traz-me um enorme pânico. Queria tanto ser personagem do romance de Saramago "Ensaio sobre a cegueira", queria tanto ser "cego", queria tanto não ter esta visão que me cega de ódio. Queria tanto não duvidar de tudo, de todos, do Mundo. Mas mais que tudo, queria não ter a minha duvida eminente: "Serei um génio? Ou serei apenas um estúpido com a mania que sou mais inteligente que tudo o resto?"